Renato
Luz*
Era
uma vez um município num local indefinido da Bahia, alguns dizem que é Chapada
Diamantina, outros dizem que é Sertão Produtivo, outros dizem que é Bacia do
Paramirim, dizer também que é no sudoeste da Bahia não resolve. Se o espaço
geográfico, o território de identidade de Livramento já é algo que provoca
muitas discussões e incertezas, imagine a política então?
O
céu ainda está nebuloso, a política de Livramento costuma-se definir nas últimas
semanas. Mas, o objeto deste artigo é
outro, e peço paciência dos leitores para tecer sobre o assunto. Quero comentar
algumas curiosidades e vícios que vem sendo renovados nos nossos quadros
eleitorais. Os eventuais erros da historicidade podem ocorrer principalmente
porque teço sobre episódios que datam de até 30 anos atrás, e eu só disponho de
22 deles. Não esperem imparcialidade, isso é mito, não vão encontrar em lugar
algum, muito menos de qualquer produção oriunda de uma mente humana. Busco
apenas o equilíbrio das partes com certa dose de independência e o mais
importante, fidelidade aos fatos.
Eis
algumas curiosidades principalmente para os mais novos, que é o segmento mais
entusiasmado nesta eleição, em particular.
Fato
1: Desde 1982, exatos 30 anos, essa é a primeira vez que temos uma disputa
eleitoral sem a presença das duas maiores figuras políticas da nossa história.
Emerson Leal e Carlos Batista. Talvez, isso explique a dinâmica desta eleição,
marcada especialmente por polêmicas e calúnias virtuais entre dois candidatos
que buscam ganhar musculatura e identidade própria nesse novo cenário da nossa
política. Se isso não explica a “baixaria” que toma conta da política
livramentense, a falta de politização de um eleitorado viciado na troca de
favores e no “toma lá da cá”,
ajudem.
É
fato também que a dicotomia do nosso jogo eleitoral sufoca qualquer
possibilidade do “novo”, da “vanguarda”, sendo assim, ficamos condenados ao
império do “mais do mesmo”. Ficamos
viciados a liderança destes dois personagens. Eles polarizam a política
livramentense há pelo menos 12 anos, desde 2000, quando Carlão se tornou o
candidato oposicionista no lugar de Lourival Trindade.
Fato
2: Digo que são as duas maiores personalidades da nossa política, pelos
seguintes motivos: Emerson é o único prefeito da nossa história com quatro
mandatos, goza também do prestigio de nunca ter perdido uma eleição (ele
próprio). Já Carlão, embora tenha apenas
dois mandatos, possui a maior votação absoluta da história do município e
certamente uma das maiores vitórias proporcionais.
Dito
isto, partimos para algumas considerações, ou melhor, contradições
mesmo.
De
uma forma ou de outra, a maioria das lideranças políticas de Livramento surgiram
ironicamente no berço de Emerson Leal, é difícil encontrar alguma personalidade
notável da política que nunca tenha dividido palanque com ele.
Nas
eleições
de 1988, “Dr. Emerson” apresentou aos livramentenses Dr. Carlos Roberto Souto
Batista (o Carlão), como
seu candidato a vice, anos depois ele descobriria que o seu então vice se
tornaria o seu maior adversário. Esse fato curioso, nos atenta para uma questão
importante; os laços que unem os vices-prefeitos na nossa cidade nas últimas
três décadas são mais frágeis do que espelhos. Quase sempre esses laços se
rompem. E ai existe uma regra básica: nenhum vice tem tido espaço na prefeitura
e isso não é de hoje, é desde que Carlão foi vice,
1989.
Em
1988, Carlão tecia elogios a Emerson e vice-versa. No mesmo ano, apresentou-se
como adversário por outra chapa o fruticultor, Raelson Ribeiro, tio de
Ricardinho. Aquela foi também a primeira apresentação de Lourival Trindade, que
herdou o eleitorado de Ulisses Lima e dali pra frente se tornaria a maior
referência oposicionista a Emerson Leal.
Em
1992, Carlão, já rompido com Emerson se lança candidato. Passou a contar com o
apoio de figuras descontentes daquela gestão. Com a oposição dividida, Emerson
fez seu sucessor sem dificuldades. Trata-se de Fernando Ledo, cuja família hoje
acompanha as fileiras do bloco do prefeito Carlão.
O
ano de 1996 é certamente uma eleição marcada pela competitividade dos candidatos
Emerson Leal e Lourival Trindade. Até hoje circulam devaneios de suspeitas
naquele processo eleitoral. Esta eleição é caracterizada também pela união das
oposições em torno da liderança de Lourival e Carlão. Lourival na época era do
PDT, ironicamente partido que hoje Emerson é filiado, sua família também optou
por não apoiar o candidato a sucessão apresentado pela situação, preferiu Paulo
Azevedo.
Em
2000, Carlão assume a liderança das oposições e monta uma chapa com o empresário
João Cambuí (PCdoB) e mais uma vez são derrotados por Emerson. Nesse meio tempo, o Priquitão, consegue também a façanha de
fazer do seu filho, deputado estadual pelo PTB, na base do então governador
Paulo Souto, depois ele passaria ao PPB e finalmente ao PSL, hoje base do
governador Jaques Wagner.
Finalmente
chegamos a 2004, uma eleição que envolveu os livramentenses. A oposição repetiu
sua chapa anterior, com Carlão e João Cambuí conseguiu a adesão da juventude do
município e também de importantes segmentos da nossa sociedade. Após, mais de16
anos, o bloco oposicionista venceu a eleição com pouco mais de 600 votos de
frente sobre Dr. Paulo, então candidato de Emerson. A vitória de Carlão e Cambuí
se deu sob o discurso de mudança, liberdade e desenvolvimento. Embora a vitória
se desse no executivo, no legislativo Carlão não conseguira fazer a
maioria.
O
prefeito Carlos Batista então trouxe para sim em troca de espaço político a
adesão do vereador Leandro Araújo, não tardou também a adesão do então vereador
Everaldo Gomes.
Se
por um lado vinham as adesões da Banda B do grupo historicamente combatido, por
outro lado surgiam os primeiros desentendimentos do prefeito com seu vice João
Cambuí e com o PT de Gerardo Junior, que ocupava a secretaria de saúde do
município. Com o parecer negativo das contas do município, e sem o apoio do PT,
mais uma vez o grupo do prefeito recorreu a vereadores do grupo de Emerson para
obter aprovação das contas do município, dessa vez foi à hora de trazer Wagner
Assis para seu time. O “troca-troca”
estava apenas começando. Como jogadores de um time futebol, as figuras da
política livramentense passaram a trocar de “camisa” com muita
freqüência.
Cambuí
tornou-se o vice na chapa da esposa de Emerson Leal em 2008 e Gerardo Junior e o
PT seguiram carreira solo. Já Dr. Paulo embora tivesse sido escolhido como
candidato em convenção partidária, acabou optando por ocupar a vaga de vice na
chapa de Carlão. A composição com Paulo na chapa vencedora é avaliada como
decisiva para a construção da ampla margem de votos na eleição
anterior.
O
palanque do prefeito, agora estava dividido não só com seu grupo original, fruto
de sua longa caminhada oposicionista, desde 1992, mas também abrigava agora,
diversas outras oriundas da gestão de Emerson Leal, inclusive do ex-
vice-prefeito, Sinval Marques. Carlão acabou por vencer o pleito com uma ampla
margem de votos e obteve um resultado de folga na Câmara, suficiente para
deixá-lo tranqüilo em qualquer votação durante o mandato.
Ufa.
Chegamos em 2012. Sem Emerson e sem Carlão, essa é a novidade da eleição. Fiz
todo esse apanhado, simplismente pra dizer que muito dos argumentos apresentados
pelos candidatos no último debate e durante a eleição são toscos e
contraditórios. Ricardinho trocou o PMDB de Geddel pelo PSD do vice-governador
Otto. Então, entende-se de que quando culpa o governo do estado por má atuação
da embasa, ‘e de outros segmentos esteja atacando seu próprio partido, que
compõem o governo e inclusive tem uma das maiores bancadas de sustentação na
assembléia legislativa. Entende-se também que quando Dr. Paulo fala de má gestão
nos últimos oito, e não nos últimos quatros anos, pressume-se que ele aderiu ao
grupo do prefeito há quatros anos sabendo do que encontraria por lá, sendo assim
em acordo com o que via.
Portanto,
como de um lado, como de outro, falácias e bobagens são espalhados para enganar
o eleitor menos informado desses fatos. O que não faltam é candidatos que posam
com palatinos da moralidade.
O
grande diferencial dessa eleição é a importância do papel que ambos os
candidatos a vice exercem. Tanto Clarismundo, como Gerardo Junior são figuras
políticas sem a menor rejeição do eleitorado do município. É provável que venha
de um deles, o diferencial que de a vitória a um dos candidatos no próximo dia
07 de outubro.
Outro
fato curioso é que há 16 anos Livramento é administrado por médicos, se Paulo
vencer, caminharemos para completar duas décadas desta tradição; por outro lado
se Ricardo vencer, teremos após 16 anos o primeiro prefeito sem formação de
nível universitário.
Feito
esse passeio pela nossa história que conclusões podemos chegar? Que não há quase
nenhuma novidade na nossa política. As mesmas famílias se perpetuam na disputa
pelo poder há pelo menos 30 anos. E por que isso acontece? Porque temos um
legislativo submisso e promiscuo, que durante todos esses anos, foi cúmplice da
uma polarização que não tem nos feito bem. São os arranjos da
política!
No
meu entender, o maior desafio do livramentense no dia 07 não é com o voto no
prefeito, mas sim no voto pra vereador. E não digo isso sugerindo o voto nulo,
este certamente não será a melhor das opções, é preciso escolher sim por um dos
lados.
Se
o nosso congresso nacional não atende as nossas demandas, acredite, ele é fruto da política mesquinha praticada nas
câmaras legislativas brasileiras. Muito embora seja dever do vereador,
apresentar projetos e fiscalizar o executivo, bem sabemos que aquela casa
legislativa está muito aquém disso. Se existem projetos, ninguém os conhece. Na
melhor das hipóteses falta divulgação, sabemos que não é o caso.
Tanto nos quadros da situação, como na
oposição a exemplos sólidos de desserviço ao que reza a constituição quanto à
função do legislador. Há exemplos nítidos de vereadores que sequer usam a
tribuna da Câmara para se pronunciar sobre qualquer tema que fosse, o que
permite inclusive suspeitas de analfabetismo funcional de alguns de nossos
representantes.
Por
isso, quando escolher o seu candidato a vereador, lembre-se que você paga R$ 3
mil e 700 reais para que ele seja o seu legítimo representante dos interesses
coletivos. Paga para que ele fiscalize o executivo e, sobretudo, apresente
projetos que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos.
Escolher
um candidato que verdadeiramente tenha projetos para o município é nosso
dever. Não seja cúmplice da promiscuidade política, não rasgue o dinheiro dos
seus impostos.
* Renato Luz é jornalista.
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